quinta-feira, outubro 26, 2006

A MORTE ABSOLUTA
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Morrer sem deixar o triste despojo da carne,
A exangue máscara de cera,
Cercada de flores,
Que apodrecerão - felizes! - num dia,
Banhada de lágrimas
Nascidas menos da saudade do que do espanto da morte.

Morrer sem deixar porventura uma alma errante...
A caminho do céu?
Mas que céu pode satisfazer teu sonho de céu?

Morrer sem deixar um sulco, um risco, uma sombra,
A lembrança de uma sombra
Em nenhum coração, em nenhum pensamento,
Em nenhuma epiderme.

Morrer tão completamente
Que um dia ao lerem o teu nome num papel
Perguntem: "Quem foi?..."

Morrer mais completamente ainda,
- Sem deixar sequer esse nome.

Manuel Bandeira

6 comentários:

Anônimo disse...

Já conhecia esse do Bandeira, muito bom.
Também gosto do Augusto do s Anjos. Ta muito legal o teu blog.
Marcio

Anônimo disse...

Eu não tenho medo da morte em si.
Tenho muito mais medo de ficar doente ou inválida por exemplo.

O poema, apesar de falar da morte, refere-se na verdade à vida. Em vida é que temos de mostrar aquilo que somos, aquilo que queremos, amar, trabalhar para que na hora da despedida se chore de facto a nossa ida.

Morrer sem sequer deixar um nome é triste demais!

Beijinhos.

Blogildo disse...

Eu não tenho medo de morrer, mas prefiro não estar vivo quando isso acontecer. hehehehehehe!

Saramar disse...

Meu querido amigo, creio que neste poema, Bandeira explicou de forma perfeita nossa fragilidade diante da morte, ao dizer do espanto, ao enfatizar este espanto tranformado em lágrimas.
Porque, apesar de certa e segura, a morte, este fim de tudo, esse esquecimento, descrito no poema, causa espanto sempre, sempre.

beijos
P.S. Se quiser, gostaria muito que visitasse meu blog de poemas (pobres, muito pobres): http://flanarfalares.blogspot.com

Ricardo Rayol disse...

É realmente a morte absoluta e absurda. Espero que eu na minha insignificante existencia ao morrer deixe ao menos meu nome no Google rs.

Poeta Zarolho disse...

“A morte sem máscara”

Realidade não aceita máscara
Porque é real e descarada
Não esconde a nossa cara
Nem nossa alma asfixiada

Asfixiada pelo cheiro a morte
Dos nossos irmãos tombados
Por não terem melhor sorte
Ao fim do mês uns trocados

Não foi a fome, foi o vírus
Circula com maior intensidade
Nem foi falta de medicação

Temos que arranjar antivírus
Para combater a insensibilidade
Da nossa brilhante governação.

http://rr.sapo.pt/informacao_detalhe.aspx?fid=31&did=52342