segunda-feira, março 17, 2008

CRÔNICAS DO CORAÇÃO
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Coração por Scott Saw

Aridez de coração, espelhada em olhos gélidos. Estas eram as características de Tiglatpileser (1117 - 1078 a.C.), fundador do novo império assírio - povo com apetite peculiar pela guerra e crueldade - cujo reinado fora marcado pelo terror. Durante os anos em que ficou no poder impôs toda a sorte de brutalidade a seus adversários. Após ter conquistado e destruído inúmeras regiões na Ásia, mandou confeccionar um hino em seu louvor, no qual pode ser comprovada sua fama de sanguinário:

“Avançou, percorrendo um caminho de três dias;
Antes do nascer do Sol, o seu chão estava em brasa.
Dilacerou o ventre das grávidas,
esquartejou o corpo dos fracos,
cortou o pescoço dos poderosos,
os fortes morreram depois do incêndio de seus países...”

Diz uma antiga lenda que este rei, às portas da morte, teve uma visão: Um poderoso demônio dançava sobre seu sepulcro, enquanto elogiava a maldade de seu coração, anunciando que por isso, haveria de sofrer tormentos num reino de sombras e punição.

Somente após esta aparição, é que o rei compreendeu que o mal presente em vida no seu coração não poderia ser sepultado com ele. Ordenou, então, ao sacerdote encarregado dos ritos funerários que seu coração deveria ser retirado e enterrado longe de seu sepulcro. O clérigo obedeceu e encravou o órgão na fértil planalto de Cujunguik em frente a uma árvore centenária. Pouco tempo depois nada mais vegetou ou cresceu neste lugar, e toda a vegetação existente secou e morreu, exceto pela vetusta árvore que ainda continua lá, petrificada.


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Assírios, um povo “sem coração”

É costume dizer que as pessoas generosas têm um bom coração, ao passo que as más “não têm coração”, ou têm um “coração de pedra”.

A palavra coração, ao que parece, deriva do latim “cor”, cuja origem pode ser encontrada na palavra kurd, do sânscrito, que significa saltar.

O coração, desde tempos imemoriais, esteve cercado de simbolismo e poder, sempre associado à vida, coragem e amor. Em verdade, ele pode ser considerado um emblema universal, tendo em vista estar presente em representações em quase todas as culturas e civilizações conhecidas.

Foram os egípcios, no entanto, os primeiros a estudar os mistérios desse órgão. Antigos tratados médicos desta notável civilização dão conta de que eles tinham conhecimento de que os vasos sangüíneos nasciam no coração e se espalhavam por todos os membros, concluindo, a partir desta observação, de que o coração enviava mensagens pelo sangue, ordenando-lhes que assim agissem, conforme nos relata T. Rundle Clark, no clássico “Símbolos e Mitos do Antigo Egito”.

Na parte mitológica, o povo que construiu a única das sete maravilhas do mundo antigo ainda existente, acreditava que o coração teria papel fundamental na vida pós-morte.

Eis que os egípcios acreditavam que após morrer todos eram submetidos a um julgamento perante o Tribunal de Osíris, na sala Maat (Justiça), no qual haveria a “pesagem do coração”. Num dos pratos da balança estaria o coração do morto, e no outro prato, uma pena. Se aquele fosse mais pesado do que esta, um monstro de aparência terrível, devoraria a alma do falecido, colocando termo ao sonho de vida eterna deste.

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A Pesagem do Coração na Mitologia do Antigo Egito

Os Astecas, que ficaram célebres por seus sacrifícios humanos, nos quais o coração era retirado do peito do imolado ainda pulsando e, então, oferecido a seus deuses, horrorizaram os espanhóis liderados por Cortez quando da conquista do Novo Mundo, como se estes tivessem o coração cheio de “boas intenções” para com os Ameríndios.

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Um Sacrifício Asteca

A Bíblia é pródiga ao mencionar o coração, ora como um caminho para se chegar a Deus, ora advertindo os maus de coração. Vejamos:

“Então procurarás o Senhor, teu Deus, e o encontrarás, contanto que o busques de todo o teu coração e de toda a tua alma” (Deuteronômio 4,29).

“Ó, homens maus, Deus quer livrá-los da maldade que inunda os seus corações e enchê-los de amor e paz. Arrepende-te, pois, da tua maldade, e roga ao Senhor; talvez te seja perdoado o intento do coração” (Atos 8:22).

No festejado Sermão da Montanha, o Cristo indica que somente os puros de coração verão a Deus, conforme se pode ler em Mateus capítulo 5, versículo 8. Aliás, não é sem motivo que o próprio Filho do Homem possuía um coração sagrado.


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O Sagrado Coração de Jesus

No Eclesiastes, Salomão, com seu habitual escárnio, e mérita propriedade, proclama: O coração dos homens está cheio de maldade, nele há desvarios enquanto vivem (Eclesiastes 9:3).

Tenho certeza que de algum lugar no céu, ou no éter, o filho de David ficou triste ao comprovar a veracidade surreal de sua assertiva no século passado: Hitler, Stalin, Pol Poth, entre outros, são exemplos de seres que não podem ser chamados humanos, pois não possuíam coração.

Na literatura medieval encontramos importante referência ao coração na lenda o Rei Arthur e o Santo Graal – ou Santo Cálice, aquele da última ceia, onde supostamente José de Arimatéia teria recolhido o sangue de Jesus crucificado, após Este ter sido espetado pela lança do centurião romano Longuino. Todos os cavaleiros da Távola Redonda partiram em busca do Cálice, mas somente um entre eles, Galahad, justamente o único puro de coração o encontrou.

Na verdade, trata-se de uma alegoria, pois a procura pelo cálice se refere à busca pela Verdade, que só pode ser encontrada por aqueles que têm o coração imaculado.

Na astrologia, tradicionalmente o Sol, fonte de luz, calor e vida rege o coração.

Os antigos alquimistas redigiam textos difíceis, herméticos aos não iniciados em seus tratados sobre a “Grande Obra” e a transmutação do chumbo em ouro. Muitos até hoje não compreendem o significado oculto dessas assertivas.

A simbologia alquímica não se aplica aos bens materiais, mas às transformações espirituais. O homem é a própria matéria da Grande Obra, nas palavras de Grillot de Givry. O chumbo significa a vulgaridade, o bruto, a ausência de inteligência, ao passo que o ouro, expressa justamente o contrário. Esta transformação só seria possível com a evolução interior, a começar pelo coração. Desta forma, “somente os homens de coração puro e intenções elevadas serão capazes de realizar a Grande Obra”.

O genial Dostoievski escreve em “Diário de um Escritor”: Os erros e as dúvidas da inteligência desaparecem mais depressa, sem deixar rasto, que os erros do coração.

Os erros do coração realmente parecem atormentar e ferir muito mais do que os desacertos da razão... Na verdade, devo concordar com a filosofia de Pascal, quando ele escreve que “o coração tem razões que a razão desconhece”...

E no amor? Neste campo o coração domina.

Brasão dos apaixonados, o coração, ora se alegra, ora sofre por amor.

É sempre aquela alegria contagiante quando vemos a pessoa amada. Declarações de amor eterno: “Meu coração sempre será seu”, ou, “Te amo de coração”

Por outro lado, quem nunca sofreu por amor e nunca pensou: “Ele (ou ela) magoou meu coração”... E aquela tristeza interminável que leva nosso coração a quase parar de bater!

Alegria, contentamento, tristeza e melancolia. Tudo por causa do coração!

Os poetas geralmente escrevem sobre o nobre órgão com certa melancolia, ou pesar, como na poesia de Fernando Pessoa:

Peguei no meu coração
E pu-lo na minha mão
Olhei-o como quem olha
Grãos de areia ou uma folha.
Olhei-o pávido e absorto
Como quem sabe estar morto;
Com a alma só comovida
Do sonho e pouco da vida.


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Coração na arte de Joseph Capuano

E os cantores? Sempre preferi aqueles que falam com alegria do coração. Quem não se lembra da letra de “Carinhoso”, composta por João de Barro e imortalizada na voz de Pixinguinha:

Meu coração
Não sei porque
Bate feliz, quando te vê...

É costume perguntarmos: O que deseja seu coração? Esta pergunta reflete a enorme importância deste maravilhoso órgão, pois mesmo sabendo que é o cérebro que nos comanda, insistimos em crer que nossas vontades emanam do coração.

Muitos corações desejaram a glória e a imortalidade. Alguns a conseguiram, outros fracassaram na tentativa. Muitos corações desejam apenas uma vida melhor, livre de privações, outros desejam apenas amar e serem amados. São inúmeras as variáveis para os desejos do coração.

Entrementes, quaisquer que sejam as vontades do coração, o importante é que nunca deseje mal ao próximo, o que infelizmente nem sempre acontece.

Apesar de toda a maldade no coração dos homens, tenho certeza de que existem muitas chamas que brilham e iluminam os diversos corações daqueles que lutam pela dignidade, pelo bem e pela justiça.

Que nosso coração pulse tranqüilo enquanto estivermos caminhando sobre a terra, e quando estivermos debaixo dela, que ele descanse em paz, com a certeza de que nos esforçamos ajudando a construir um mundo melhor!

...o coração não me envergonha por meus dias (Jó 27,6).

quinta-feira, março 06, 2008

DESPERTE

Enquanto você dorme, o mundo não pára...
Injustiça, miséria e morte campeiam no insano mundo dos seres humanos.
Ódio, brutalidade e opressão aterrorizam os indefesos.
Enquanto você dorme, ainda há escravidão...
Alguém morre de inanição, ou na fila de algum hospital público...
Enquanto você dorme, ainda há analfabetismo...
A violência aumenta, e as famílias choram seus mortos...
Enquanto você dorme, políticos corruptos desviam dinheiro público e enriquecem à nossas custas...
Enquanto você continuar dormindo
Tudo permanecerá igual...
Desperte...

Proteste!

Lute por seus direitos!