domingo, outubro 22, 2006

O POETA DA MORTE
"Falas de amor e eu ouço tudo e calo!
O amor na humanidade é uma mentira
É e é por isso que na minha lira
De amores fúteis poucas vezes falo"
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Augusto dos Anjos (1884 - 1914) viveu pouco, mas deixou marcas profundas em sua breve pasagem pela Terra. Morreu prematuramente aos 29 anos de idade. Deixou apenas um livro "Eu", no qual a morte, o sofrimento e a melancolia são temas recorrentes. Talvez tenha sido nosso poeta mais original, mas está longe de ser uma unanimidade. Amado por alguns e odiado por outros, sua obra escandalizava os críticos da época, e ainda hoje causa aversão a muita gente. Assim como outros iluminados, jamais teve o reconhecimento que merecia em vida.
Estou postando seu poema mais conhecido, e o que mais gosto. Genial.

VERSOS ÍNTIMOS

Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!
O homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa inda pena tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!

8 comentários:

tina oiticica harris disse...

Estas duas últimas estrofes são de matar. São Lupiscínio Rodrigues à milésima potência.

O livro das obras dele está à venda?

Anônimo disse...

Não conhecia esse poeta. Mas graças a ti, descobri-o!
Gostei muito do soneto. Revela muita revolta e desilusão.

Sabes de quem me lembrei? Do António Variações!

Beijinhos.

Saramar disse...

O soneto parece refletir nossa época, em que o homem insiste em ser fera, como diria Hobbes, o lobo de si mesmo.

Excelente!

Ricardo Rayol disse...

Sou um analfa cultural . Por isso só posso aplaudir quem consegue destrinchar d eforam sucinte e legível os meandros culturais do Brasil.

Anônimo disse...

Um dos representantes do Byronismo no Brasil, não foi isso?

Tempos em que se adoecia para tentar compreender o amor e a vida... Estranho, porém, mais atual do que se possa imaginar.

Se estiver se referindo à carta do Chefe Seatle, é linda mesmo! Eu a tenho, e guardo no coração aquelas palavras de infinita sabedoria, pois amo os indígenas e as práticas xamãs.

BeijUivooooooooooossssss da Loba

Blogildo disse...

Comecei a apreciar o "dos Anjos" no final do ano passado. É a fina flor da poesia. Muito bom gosto!

Nat disse...

Augusto dos Anjos descreveu muito bem a atualíssima política do morde e assopra (risos).

Helena disse...

Alô, Defensor, também gostei do seu blog - imagens e textos fortes. Adoro isto. Sou apaixonada por AA, por este poema e por esta frase: "apedreja esta mão vil que te afaga e escarra nesta boca que te beija" Está no meu blog, inclusive, no texto em que falo da Copa.

Também amo Baudelaire, Borges e Poe. Estamos sintonizados.

beijão e obrigada por visitar o Ovo Azul Turquesa

Helena